sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

Olha o que você fez




   Neguei meus princípios, tentei ultrapassar meus limites e me forcei a comer uva passas com arroz no Natal com sua família. Pintou a parede do meu quarto, mudou a posição da cama e me guiou até eu me perder. Utilizou a lábia de especialista e consertou minha televisão, mas, quando partiu, deixo-a em preto e branco. Agora, largada no sofá com as frutas podres, abandonei as folhas que te incluíam em um mundo de perdão com pessoas dispostas a não atropelarem nosso relacionamento. 
   Não parei de escrever, não parei de saciar a vontade incontrolável de brincar com as palavras e fantasiar os mais estúpidos planos. Parei de me importar com suas encenações de eu-prometo-que-é-só-uma-fase-e-tudo-ficará-bem. Sim, eu sei que já falei isso antes e até peço desculpas pelos tombos que proporcionei - você bem sabe que a vida dá uns tropeços de vez em sempre.
   Só não esquece de vestir a camisa jogada na cadeira, deixar o telefone do pedreiro - pra ele vir dar uma olhada na parede rachada - e não olhar pra cima - porque eu vou estar te vendo dobrar a esquina. 

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